10 October 2010

l'art pour l'art

Teoria segundo a qual a Arte visa exclusivamente a proporcionar o prazer estético, ou seja, desconhece fins utilitários, como a moral, a política, a educação, etc.

A idéia contida na expressão "arte pela arte" remonta a Aristóteles, que recusava admitir propósitos didáticos para o fenômeno estético. Horácio, porém, colocava-se em posição diametralmente oposta: "Não basta que os poemas sejam belos: força é que sejam emocionantes e que transportem, para onde quiserem, o espírito do ouvinte"(Arte Poética, tr. port., vv. 99-100). Os românticos alemães (Kant, Goethe, Schelling, Schiller) retomaram a postulação aristotélica, desenvolveram-na e difundiram-na. Em França, reportando-se à filosofia de Kant, Benjamin Constant teria cunhado a fórmula "arte pela arte" no seu Journal intime de 1804, mas publicado em 1895. E o pensador Victor Cousin a teria empregado nas suas preleções acerca do Belo, do Bem e do Verdadeiro, proferidas em 1818 mas apenas dada à estampa em 1836. Outras referências, agora explícitas, podem ser encontradas nos prefácios de Victor Hugo às suas peças Cromwell (1827) e Hernani (1830). Todavia, a utilização consciente e polêmica da fórmula deve-se a Théophile Gautir: no prólogo a Mademoiselle de Maupin (1836), romance passional, insurge-se contra as pretensões da arte moralista, demonstrativa, propedêutica, e contra as preocupações do dia-a-dia político e os planos de reforma social. Passados vinte anos, em 1856 publica no orgão Artiste um manifesto em que ratifica os conceitos anteriores: "cremos na autonomia da arte; a arte, para nós, não é o meio mas o fim; - todo artista que se propõe algo que não o belo não é artista aos nossos olhos; jamais pudemos compreender a separação da idéia e da forma (...) uma bela forma é uma bela idéia, pois que seria da forma que não exprimisse nada?" (ap. Pierre Martino, Parnase et Symbolisme, 10o ed., 1958, p.19).

O ideal da "arte pela arte", expandindo-se e ganhando a adesão de Baudelaire, Poe, Wilde, Remy de Goumont e outros, tornou-se o lema do Parnasianismo e do esteticismo, que atravessam a segunda metade do século XIX.

-texto de Massaud Moisés in Dicionário de Termos Literários