12 September 2010

antes tarde que nunca

já diz o ditado que talvez seja tão velho quanto a humanidade. pois. estou lendo pela primeira vez - isso mesmo - o meu primeiro Gabriel García Márquez. coisa do acaso. outro dia um desconhecido deixou uns livros (todos em português, includindo traduções) numa mesa no corredor do departamento para que quem quisesse apanhá-los. enfim, lá estava Memórias de Minhas Putas Tristes. coloquei-o na bolsa, e hoje me engajei nas memórias desse narrador nonagenário. deliciante!

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco." García Marquez in Memórias de Minhas Putas Tristes)